quarta-feira, 30 de abril de 2008

Dança dos Versos



Palavras traçadas
simbólico amor
das noites que não te tive
dos dias que não existimos

das nuvens escutei sua voz
luz do sol penetrastes minha pele
nos luares vi seu rosto
e na entranhas do mar
naveguei em seu corpo

do alto das montanhas
meu coração retumbou
versos bailaram contigo.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Fado Tropical



Oh, musa do meu fado
Oh, minha mãe gentil
Te deixo consternado
No primeiro abril
Mas não sê tão ingrata
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata
Se perdeu e se encontrou
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

``Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar,
trucidar
Meu coração fecha aos olhos e sinceramente chora...''

Com avencas na caatinga
Alecrins no canavial
Licores na moringa
Um vinho tropical
E a linda mulata
Com rendas do Alentejo
De quem numa bravata
Arrebato um beijo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

``Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto

Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intencão e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto

Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadura à proa
Mas o meu peito se desabotoa

E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa''

Guitarras e sanfonas
Jasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas
Que corre Trás-os-Montes
E numa pororoca
Deságua no Tejo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Pássaro Livre






"Sou uma espécie de pássaro encantado


que não aceita gaiolas nem qualquer tipo de prisão.


Minha mágica está justamente no bater de asas,


que se douram pertinho do sol


e o meu maior prazer é ir e vir quando o coração


-- minha única bússola -- pede."

O amor possui as asas da obstinação,


os braços robustos da liberdade


e a intrepidez espiritual dos espíritos livres...

quarta-feira, 23 de abril de 2008

A Morte Absoluta



A morte absoluta


Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.


Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão - felizes! - num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.


Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?


Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.


Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."


Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome.

(Manuel Bandeira)

Estar sozinha ...


Vozes do mar



Vozes do mar


Quando o sol vai caindo sobre as águas
Num nervoso delíquio d’oiro intenso,
Donde vem essa voz cheia de mágoas
Com que falas à terra, ó mar imenso?...


Tu falas de festins, e cavalgadas
De cavaleiros errantes ao luar?
Falas de caravelas encantadas
Que dormem em teu seio a soluçar?


Tens cantos d'epopeias?Tens anseios
D'amarguras? Tu tens também receios,
Ó mar cheio de esperança e majestade?!


Donde vem essa voz,ó mar amigo?...
... Talvez a voz do Portugal antigo,
Chamando por Camões numa saudade!

(Florbela Espanca)

sábado, 19 de abril de 2008

TERNURA DE SERMOS APENAS HUMANOS



Se não podemos mudar o mundo,
interminável trabalho de formiguinha,
resta nos abrir para o que existe
e sempre existirá de positivo:
os verdadeiros amores,
que não se baseiam em vantagens,
mas em ternura e respeito;
as verdadeiras amizades,
que não se contam pelos dias convividos,
mas pela certeza de que o outro está sempre ali;
as verdadeiras famílias,
em que apesar das diferenças imperam a confiança e a alegria.
Sempre que alguém quer e realiza o mal do outro,
alguma coisa no mundo se desestrutura;
toda ação ou palavra perversa,
toda injustiça é um crime contra a natureza mais ampla,
que nos inclui, a nós,
seres humanos vulneráveis e grandiosos,
patéticos e dignos - tudo isso por sermos apenas humanos.


(Lya Luft, trecho extraído do artigo "O belo e o bom", em sua coluna Ponto de Vista,

da revista Veja, de 31 de janeiro de 2007)

Depois de ler "Pensar é Transgredir", da escritora gaúcha Lya Luft, passei a admirar o seu trabalho, a sua forma de fazer livros. De escrever. Gosto de pessoas que me inspirem sensibilidade, pessoas que falam com o cérebro e com a alma. Sem, portanto, perder a simplicidade. Pessoas que se importam com o outro. Que reconhecem a complexidade do homem. Pessoas que pensam. Que transgridem. Que não se conformam. Que admiram o belo, mesmo que o belo seja de controversa definição .

Lembranças


Passeiam na memória
trazendo recordações...
São paisagens de momentos vividos,
e foram tantos os lugares percorridos...

Palavras que voltam à mente
trazidas pelos ventos da saudade
e que ecoam em nossos corações.
De repente um perfume no ar
que entra na alma e faz sonhar

Inesquecíveis canções,
chegam aos ouvidos,
de imediato reconhecidas.
Orquestram na mente um balé de imagens
relembrando emoções há tempos sentidas
sentenciando que nunca serão esquecidas.

Lembranças, imagens que eternizam-se
enraizadas não na mente, mas no coração.
Nunca serão perdidas.
Inquietam a alma, trazem a esperança
de que um dia serão revividas.



***

terça-feira, 15 de abril de 2008



"Haverá aconchego mais tenro
Cobertor mais macio,
Que o teu olhar pousado em mim?
Vem assim sem palavras...num só gesto
Tira-me o frio
Tira-me do sério
E por um momento esqueçamos todo o resto..."

Todos os sonhos do mundo...



As voltas em ti, curvado em mim
Todos os sonhos do mundo repousam
Sob a rosa brava e o ramo de alecrim.

Je t'aime ...

sexta-feira, 11 de abril de 2008

O Tempo


"O tempo é muito lento para os que esperam,
muito rápido para os que tem medo,
muito longo para os que lamentam,
muito curto para os que festejam,
mas, para os que amam, o tempo é eternidade."

( William Shakespeare )

Aqui e Agora




Estou tentando captar a quarta dimensão do instante-já.

Meu tema é o instante?

Meu tema de vida.

Procuro estar a par dele,

divido-me milhares de vezes,

em tantas vezes quanto os instantes que decorrem,

fragmentária que sou e precários os momentos

– só me comprometo

com a vida que nasça com o tempo e com ele cresça:

só no tempo há espaço para mim.


(Clarice Lispector)

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Ausência ...


Ausência



Ausência


Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo,

não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.

(Fernando Pessoa)

Ausência



Ausência


Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

(Carlos Drummond de Andrade)

Ausência



Ausência

Eu deixarei que morra
em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

(Vinícius de Moraes)

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Velejar



Não quero mais ter pressa para nada
Afinal não tenho viagem marcada
Quero parar junto com o tempo
Não me importa que fique lento.

Corri sempre e não cheguei a nada
Aliás viver é uma parada
Quero sentir a brisa, ouvir as flores
Tocar viola, compor amores.

Morre tanta gente todo dia!
Para que tanta agonia
Quero sentir a chuva
Não quero ter uma viúva.

Quero me desgarrar da manada
E se possível não fazer mais nada
Nada além do que eu desejar
Como por exemplo: velejar.

Até quando é preciso dinheiro
Quero tê-lo como parceiro
Não como principio e fim
Quero algo a mais pra mim.

A vida é curta e passageira
Tenho que pular dessa esteira
Quero viver pelo coração
Mesmo que seja em solidão!

(Santaroza)

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Simplicidade



“Na simplicidade aprendemos

que reconhecer um erro não nos diminui,

mas nos engrandece,

e que as pessoas não existem

para nos admirar,

mas para compartilhar conosco

a beleza da existência."


(Mário Quintana)


Murmúrio



TRAZE-ME um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!




Um pouco de sombra, apenas,
— vê que nem te peço alegria.




Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no seu coração!




A alvura, apenas, dos ares:
— vê que nem te peço ilusão.
Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saüdade da flor!
— Vê que nem te digo — esperança!
— Vê que nem sequer sonho — amor!


(Cecilia Meireles)

Existe um lugar



Existe um lugar onde tudo
é possível... onde o amor é verdadeiro,
onde tudo se conquista,
nada se compra, onde os dias são
calmos e só se ouve verdades,
onde se dorme um soninho de paz,
e todos os amanheceres são lindos!
Este lugar se chama coração!
É neste lugar que eu guardo... você!

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Quero



QUERO

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabe-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas, que me amas, que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.

(Carlos Drummond de Andrade)

terça-feira, 1 de abril de 2008

Circunda-te de rosas...



"Circunda-te de rosas,

ama,

bebe e cala.

O mais é nada."

(Fernando Pessoa)

Para pessoas especiais



Não quero alguém que morra de amor por mim...
Só preciso de alguém que viva por mim,

que queira estar junto de mim, me abraçando.

Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo,

quero apenas que me ame,
não me importando com Intensidade.

Não tenho a pretenção de que todas as pessoas que gosto,
gostem de mim...
Nem que eu faça a falta que elas me fazem,
o importante pra mim é saber
que eu, em algum momento,
fui insubstituível...

E que esse momento será
inesquecível...

Só quero que meu sentimento seja valorizado.
Quero sempre poder ter um sorriso estampando meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre...

E que esse meu sorriso consiga transmitir paz
para os que estiverem ao meu redor.

Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém...
e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos,
que faço falta quando não estou por perto.

Queria ter a certeza de que,
apesar de minhas renúncias e loucuras,
alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho...

Que me veja como um ser humano completo,
que abusa demais dos bons sentimentos
que a vida lhe proporciona,
que dê valor ao que realmente importa,
que é meu sentimento...
e não brinque com ele.

E que esse alguém me peça para que eu nunca mude,
para que eu nunca cresça,
para que eu seja sempre eu mesmo.

Não quero brigar com o mundo,
mas se um dia isso acontecer,
quero ter forças suficientes
para mostrar a ele que o amor existe...

Que ele é superior ao ódio e ao rancor,
e que não existe vitória sem humildade e paz.

Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar,
amanhã será outro dia,
e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos,
talvez obterei êxito e serei plenamente feliz.


Que eu nunca deixe minha esperança
ser abalada por palavras pessimistas...

Que a esperança nunca me pareça
um "não" que a gente teima em maquiá-lo de verde
e entendê-lo como "sim".

Quero poder ter a liberdade
de dizer o que sinto a uma pessoa,
de poder dizer a alguém
o quanto ele é especial e importante pra mim,
sem ter de me preocupar com terceiros...

Sem correr o risco de ferir
uma ou mais pessoas com esse sentimento.

Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão...
que o amor existe,
que vale a pena se doar às amizades e às pessoas,
que a vida é bela sim,
e que eu sempre dei o melhor de mim...
e que valeu a pena!


(Mário Quintana)

O Amor


O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

(Fernando Pessoa)